Confira entrevista sobre Hanseníase com o coordenador nacional do MORHAN

Todos os anos é lançada a campanha Janeiro Roxo de combate à Hanseníase. Em 2022, a data escolhida foi dia 25, em que foi realizada a abertura da Campanha do Janeiro Roxo e da assinatura do termo de adesão ao "NÃO ESQUEÇA DA HANSENÍASE", que vai até maio e aconteceu no Monumento Estácio de Sá. O evento foi organizado pela Secretaria Municipal de Assistência Social, Secretaria Municipal de Saúde, juntamente com o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (MORHAN), e a Associação dos Peritos Criminais Federais – APCF. Na ocasião, foi feita a assinatura do Acordo de Cooperação celebrado entre as partes. Estiveram presentes no evento, a secretária municipal de Assistência Social, Laura Carneiro, a presidente do CMDCA-Rio, Érica Arruda, e o coordenador nacional do MORHAN, Artur Custódio, que nos concedeu uma entrevista para falar sobre o tema.

1 - Como a campanha Janeiro Roxo pode ajudar na conscientização da população em relação à Hanseníase?

Essa estratégia nasceu de uma iniciativa da sociedade civil no Outubro Rosa no câncer de mama. Ela foi uma campanha tão forte e com tanto alcance na agenda politica que várias doenças começaram a imitar essa ação. No caso da Hanseníase, o dia mundial da doença foi criado na década de 40 e associou-se a cor roxa. A ideia é justamente pensarmos em como trazer para a agenda politica a questão da Hanseníase. Este ano, por toda a questão do esquecimento que houve da doença por ser mais frequente na população mais vulnerável, a gente também lançou a campanha “Não Esqueça da Hanseníase”, que vai até maio. Então, o Janeiro Roxo desta vez está associado também ao “Não Esqueça da Hanseníase”, que é uma tentativa de se falar da doença e criar mídia espontânea e colocá-la na agenda politica.

2 - O Brasil será o primeiro país do mundo a oferecer teste rápido e gratuito para hanseníase. Como isso pode ajudar no tratamento de novos casos?

O SUS será o primeiro Sistema de Saúde a comprar os testes. Existe um prazo depois da incorporação das políticas públicas. Muito em breve isso estará disponibilizado. Talvez dentro de um ano. Isso auxilia o diagnostico da doença. Muitas vezes se deixa de fazer o diagnostico por falta de profissionais de saúde ou exames mais precisos ou na dúvida do diagnostico. Então, o teste vai auxiliar muito na atenção básica de saúde, principalmente, nos municípios do interior a diagnosticar mais rápido a doença.

3 - Como os meios de comunicação podem se posicionar para diminuir o preconceito em relação aos portadores da Hanseníase?

Uma boa parte do estigma da doença está associada à falta de informação. É um estigma estrutural. Temos que ter ações voltadas à educação, à cultura. Somente educação e comunicação não sustenta vencer contra discriminação estrutural. É preciso outras medidas educativas. Trabalhar com a criança, por exemplo. Aliás, crianças com Hanseníase significa adulto em casa sem tratamento. É raro criança com Hanseníase e o Brasil tem o maior índice de crianças com Hanseníase no mundo e crianças que muitas vezes já chegam com sequelas que vão ficar para o resto da vida. Inclusive, temos núcleos do MORHAN ligados aos CMDCAs e estamos sempre discutindo o que fazer com crianças doentes e como auxiliar a eles terem um tratamento digno, rápido e não terem estigma e preconceito nas suas escolas ou onde estão.

4 - O que ainda precisa ser implementado nas políticas públicas para melhorar o acesso à saúde por parte dos portadores de Hanseníase?

O lançamento da campanha com a participação da secretaria de assistência social, Laura Carneiro, traz a tona uma discussão mais ampla, que a Hanseníase não é um problema só da Saúde. A gente tem que ter políticas públicas intersetoriais, que avancem contra a doença, na educação, na saúde, na comunicação, na qualidade de vida das pessoas, no meio ambiente. A Europa acabou com a doença antes mesmo de se ter um medicamento que acabasse com a doença e isso foi por conta da melhoria da qualidade de vida da população. É necessário que a gente avance nesse sentido e tenha uma série de políticas públicas integradas e avance no treinamento de profissionais na saúde e na assistência, avançar no tripé da seguridade social, ver as questões que são ligadas a previdência, principalmente, para as pessoas que ficaram com sequelas, precisa avançar nas questões ligadas a assistência social e também na saúde de modo geral.

Importante: Para as pessoas que tenham dúvidas, queiram ser voluntárias ou queriam fazer alguma denúncia de alguma situação de preconceito relacionado à doença, fazer doações, reclamações ou ainda ajudar a montar um núcleo, o telefone de contato é o ZAPHans (21) 97912-0108